A VOZ DO POETA

É o momento em que o poeta

tomando a voz ao profeta

dirige-se ao firmamento.

Abre o mundo o reposteiro,

para ouvir o timoneiro

do barco do pensamento.

Esse é o momento solene,

em que o poeta é perene,

fora do tempo, sem era.

É o momento eternidade,

fogo, sol, força, verdade,

luz do céu que reverbera.

Artesão do encantamento,

voz cérebro e sentimento,

voz ronco de mil trovões,

sacode o poeta o universo,

que treme ao fragor do verso

aberto em revoluções.

O poeta é a voz da igualdade,

é o olhar da imensidade,

o poder de antevisão.

Fala a Deus, ouve os rochedos,

tem o mistério e os segredos

do Signo de Salomão.

Vida sobrenatural.

numa explosão cerebral

ferve-lhe o sangue na prece.

E o mundo inteiro abismado,

repete-lhe a voz e o brado

- a Eternidade estremece.

No timbre da sua voz

há um raio que fere o algoz,

que faz o ímpio tremer.

Nessa garganta terrível,

há uma palavra invisível,

não de ouvir, mas de entever.

É a expressão alta e sublime

que exprobra, verbera o crime,

a prepotência, a cadeia!

Que cria leis e direito,

que bate forte no peito

e as multidões incendeia.

Na poesia abrem-se os céus,

abrem-se os astros e Deus

fala na voz do poeta.

Um raio só dessa luz

dos infinitos azuis,

inspira e cria o profeta.

Quem vê o poeta ignora,

não sabe que nessa hora

ele é o gênio da poesia.

A terra inteira se inclina

e o Astro Rei o ilumina

no mundo da fantasia

Quem vê, não sabe de certo,

que o infinito está aberto

e acesos seus lampiões.

Por isso, quando ele grita,

sua voz se precipita

no coração das nações.

É o grito dos desvalidos,

desgraçados, oprimidos,

dos que andam de pé no chão.

Grito das leis sociais,

dos filhos que não tem pais

e largam-se à vida-cão.

Voz dos que não vão à escola,

porque vivendo de esmola,

a escola é um mundo insondável.

Daqueles que a economia

da pátria, da empresa envia

à fossa do miserável.

Oh! A voz dos pobrezinhos,

sangrando os pés nos espinhos

dos quais ninguém os redime.

Voz do pai que sem trabalho,

busca do filho o agasalho

pelos caminhos do crime.

Voz excelsa da poesia!

Voz busca! Voz rebeldia!

Voz do povo e dos heróis!

Dita ao mundo, à sociedade,

todo o cristal da verdade,

toda a grandeza dos sóis.