Por enquanto

Por enquanto ( Wagner Viana)

Solidão abutre: faro famigerado, sentido apurado.

Capta-nos a essência do interior falido;

Sega-nos com lâmina o peito em que

O algoz sufocado quase não se houve.

Em vão, vagam vãos pensamentos: Quimeras, sentimentos...

Quisera ter seu poder, verdugo etéreo amigo do tempo!

Não seria a isca que se debate; se afoga e que me é afim.

Não seria o faminto predador que lhe é afim.

Estabelecer-me-ia nas paredes do universo que fora meu um dia

Antagonicamente aos seus princípios e deixaria de ser solidão.

Meus passos deixariam de ser contidos,

A ciranda da criançada- lá fora- faria sentido;

Far-se-ia ouvida.

Da aurora ao arrebol- por fim- faria um sinestésico café com leite:

Misto harmonioso entre a tez e as sombras.

Por enquanto agonizo - sou espreitado.

Respiro e não sou devorado a carne.

(Isso não é promessa de fé ou fracasso: é relapsa reflexão.)

Enquanto isso a poesia das coisas naturais segue seu curso

Numa melodia que não me pertence.

Wagner Viana
Enviado por Wagner Viana em 24/05/2011
Código do texto: T2990728