Por enquanto
Por enquanto ( Wagner Viana)
Solidão abutre: faro famigerado, sentido apurado.
Capta-nos a essência do interior falido;
Sega-nos com lâmina o peito em que
O algoz sufocado quase não se houve.
Em vão, vagam vãos pensamentos: Quimeras, sentimentos...
Quisera ter seu poder, verdugo etéreo amigo do tempo!
Não seria a isca que se debate; se afoga e que me é afim.
Não seria o faminto predador que lhe é afim.
Estabelecer-me-ia nas paredes do universo que fora meu um dia
Antagonicamente aos seus princípios e deixaria de ser solidão.
Meus passos deixariam de ser contidos,
A ciranda da criançada- lá fora- faria sentido;
Far-se-ia ouvida.
Da aurora ao arrebol- por fim- faria um sinestésico café com leite:
Misto harmonioso entre a tez e as sombras.
Por enquanto agonizo - sou espreitado.
Respiro e não sou devorado a carne.
(Isso não é promessa de fé ou fracasso: é relapsa reflexão.)
Enquanto isso a poesia das coisas naturais segue seu curso
Numa melodia que não me pertence.