REGRAS DA VIDA XIII & MAIS
REGRAS DA VIDA XIII
"Sem medo, sem dúvida, hesitação, surpresa",
foi esse o lema de antigo samurai,
sua regra para a vida, o mesmo ideal que vai
levar-te através dela, na mais real certeza.
Primeiro vem o medo, que deve, com firmeza,
ser dominado sempre, a cada vez que surja:
trabalha esse temor, enfrenta-o quando urja
o receio ou o pavor, a minar-te a fortaleza...
Mantém o olhar aberto para as possibilidades,
verifica os sinais, que a vida sempre muda,
tomada a decisão!... e sustenta o que te escuda.
E não duvides mais que tomaste o rumo certo:
se empregares na escolha as tuas capacidades,
teu mal se afastará e o bem terás por perto.
a version for an earlier sonnet,
THE RULES OF LIFE XI
When you are angry, avoid raising up your voice:
Your calm always and your control maintain.
A steady stance the swallowed wrath'll sustain,
To give you results and afford you a choice...
Preferably to your letting fly off the handle,
Let the others shout alone and atrive for
Bending your will to theirs when they swore
That you're in the wrong and foolishness spangle.
An old saying states, "the quiet one shall win",
Even when sometimes a lot more shall irk
When you present a stance of steady meekness
Then if you pay in kind the bad will with ill,
Arguing like one who draws a sharp dirk
A quarrel so to end by further unhappiness...
Naturally you understand that something has to be added or taken to achieve metrics, rhyme, and rhythm. but if you translate this back to portuguese you'll see not much was changed and that the ideology was kept untouched.
PAZ E SEGURANÇA
As coisas se aproximam aos poucos. Não percebes
por falta de atenção... Olhos fechados
sonambulando a vida, sem cuidados
pelo que pode vir... Ou não te atreves
a estudar sinais, óbvios às vezes,
de que a surpresa espreita no caminho,
de que o amor, à tocaia, de mansinho,
vai te assaltar, ao longo desses meses
em que te achaste em tudo indiferente.
Também a morte espreita, o desemprego,
a doença, a perda, a vastidão do luto.
Pois teu futuro é nova, certamente,
conseqüência do que fazes, ou do emprego
desatencioso de um tempo dissoluto...
REGRAS DA VIDA XIV
A força do remorso do mal-feito,
A culpa e o luto são coisas importunas,
Que interferem sempre nas fortunas
E corrompem o bem, ao qual direito
Todos nós temos. Mas pior é o nunca-feito,
Que se lamenta agora, de outro tempo
E que não é mais possível, contratempo
De letargia, ou vergonha ou de despeito.
Mas existe tanta coisa neste agora!...
Que podemos fazer, basta um esforço
Para não virmos, no futuro, a lamentar
O que deixamos de fazer... embora
Já nos queixemos do antigo endorso,
Sempre é tempo de outras obras realizar.
MOTIVAÇÕES
"Ah, como eu gostaria das coisas que não fiz!..."
Muito mais que o remorso por atos impensados
é o lamento ante a morte do desejo que eu quis
e nunca realizei, por conta de cuidados
acreditados na época importantes: lodaçais
como a opinião dos outros e a falsa obrigação
perante a sociedade. Mas lamentar jamais
nos leva a parte alguma, só parte o coração.
Não fiz então, porém, quem sabe agora?
É inútil invejar os outros que fizeram
ou remoer o ardor perdido no passado...
Mas e o que se quer agora? Qual o desejo alado
que nos alenta o anseio? Se o outro foi-se embora,
cria feliz lembrança para os anos que te esperam...
DA VIDA OS FUNDAMENTOS
Pesa bem as tuas chances, as probabilidades
e só então decide -- nunca acorras
ao impulso do momento, nem socorras
ao erro com outros e mais fragilidades...
Observa tuas escolhas, as chaves e opções:
sempre se pode costurar destinos...
São nossos atos, mesmo pequeninos
que o moldam sempre, através das decisões
que tomamos agora. Todo o acaso
é conseqüência final da liberdade
no teu arbítrio. A escolha é sempre tua.
Depois, é inevitável... E é tão raso
querer voltar atrás, na sorte nua...
Foste tu mesma quem gestou a fatalidade!...
MORDENTE
Disseste um dia que tiveste medo
de mim por longo tempo. Que maldade
eu poderia estar arquitetando
para as redes lançar da sedução!...
Por te possuir um pouco e então degredo
ser teu destino... Agir com falsidade,
tantos gestos de amor te demonstrando,
para invadir-te inteiro o coração!...
E agora sabes a que ponto descabido
foi o temor de mim... Um despautério:
não se foge dos medos, mas se enfrenta!...
E em breve o erro vê-se percebido.
Melhor seria ocultar-se em monastério
quem desfrutar dos medos se contenta!...
TUA É A SENTENÇA...
Foste tu mesma a tomar tua decisão,
ou permitiste a alguém que decidisse?
É assim tão fácil que se permitisse
que a vida apenas te desse um empurrão?
Mas se a escolha foi tua, não hesites
ao pôr de lado a dúvida e, em frente,
prossegue em teu caminho diferente.
Mas ele é teu e a ninguém mais concites
a contigo seguir em tal destino...
Se alguma coisa é certa, é o amanhã
e a conseqüência de um ato é inevitável.
Algo ganhaste --- se foi um desatino,
perdeste muito mais... Porém, é vã
a dúvida na escolha irremediável!...
BENKALITIS [magia branca]
Existe algo nas artes da mulher
que é sobrenatural, uma magia
que vai além do corpo, sorceria
que lhe permite seduzir o quanto quer.
Conosco foi assim: à flor da pele,
o olor foi exalado. E o toque mais sutil,
dedos nos ombros, nos braços, no gentil
ondular dos cabelos, que teu rosto vele.
Escondendo o olhar, lábios, feições...
O corpo inteiro invade corações,
de uma maneira tal, que bruxaria
para as mentes comuns só explicaria
a força desse aríete intangível
que a meu aríete a entrada fez possível...
ATÉ QUE TENHAMOS ROSTOS
E vê-se agora, em plena era de Aquário,
retornarem à luz as velhas crenças...
Os antigos pendores, renascenças
de um profetismo vago e multifário...
E justo agora, em que a tecnologia
já nos levou tão longe e mais ainda
nos levará, pela galáxia infinda,
de onde, talvez, nossa raça proveria...
E a transcendência é buscada ao véu de Anitra,
procuradas as deusas que o mundo já esqueceu,
de Ísis e Astartéia no rito consagrado,
no sangue desse touro sacrificado a Mithra,
na retorno impetuoso do Demiurgo alado
e até no timorato dualismo maniqueu.
ENQUANTO TENHAMOS CORPOS
Nada existe mais tolo que os remorsos.
Se você agiu mal, então corrija.
Se corrigir não pode, não exija
mais a si mesma do que normais esforços.
Esqueça assim o quanto fez de mal.
A culpa é um sentimento muito egoísta...
Não leva a nada, salvo se conquista,
em seu caráter, a decisão final
de não agir de novo dessa forma.
Mas se sua culpa é pelo que não fez,
tente fazer agora... Que haverá
sempre ocasião em que, quando retorna
o sonho inatingido [não o mesmo, talvez]
alguma nova alegria então encontrará...
MORFALAXE
Dentro de todos nós dorme um patinho feio,
ansioso por voltar à luz do claro dia,
por baixo dessas penas de águia luzidia
ou de cisne orgulhoso, vogando sem receio.
Existe em cada um a criança maltrapilha,
o jovem desprezado, a exclusão do adulto,
por mais que a vida enfim nos tenha dado indulto,
ainda permanece a inversa maravilha...
E, cedo ou tarde, ao perpassar do tempo,
essa glória e essa forma, nossa maior riqueza,
o vigor muscular, o orgulho da beleza,
irão envelhecer, ao som do contratempo:
a criança ferida se mostra então no velho
e a imagem do patinho reflete-se no espelho.
[morfalaxe = regeneração orgânica, tomada aqui por antítese];