DISTINTOS
Passamos dias úteis
traçando dias fúteis
para nos abraçar.
Corremos as mãos aos ventos:
nebulosos e dissolventes
são nossos ideais.
Pouco há mais a dizer:
uma mulher no cais
um homem morto aqui,
um outro acolá...
pouca diferença faz.
As crianças esfomeadas
e angelicais dormem
nas calçadas centrais.
A mais pensamos
por pouco vivemos
e nos calamos por uma
dose, um porre
ou uma terça de terço na
mão,
ou até mesmo uma fervorosa
oração.
Passamos dias úteis
traçando dias fúteis
para nos abraçar.
(poema publicado no livro Cúmplices, de 1993).