Um Troco
O caneco nas mãos e as roupas esfarrapadas anunciam a pobreza:
- Um troco moço, por favor um troco
A barriga incha mais uma vez
Mas as duas mãos já estão ocupadas, segurando o amanhã:
- Qualquer coisa dona, qualquer coisa.
Os pés descalços enceram o chão quente de asfalto.
São Marias e Joanas, Antônios e Joaquins
Não importa, pois nos registros não constam
- Tia, tem um pedaço de pão?
Órfãos de mãe, pai e pátria
Filhos da pobreza e do descaso
Chorando tantos por mortes em guerras que não existiram
- Eu olho para o Sr., deixa que eu olho
O olhar na vitrine denuncia o sonho e
O silêncio da noite é quebrado por gritos, choro, dor....
- Era meu filho Senhor! Era meu filho!
O cemitério ganha novos moradores
Mais uma vez veste-se a roupa pobre, podre
Caixão de papelão.
Essa terra com tantos donos e nenhum morador
Os olhos se fecham envoltos em paredes de platina
E mesmo no completo silêncio, ninguém mais ouve o grito que diz:
-Um troco moço, por favor um troco.