OS HOMENS DE ASAS QUEIMADAS

Escrita em 17 de março de 2008.

Pelas paredes inóspitas do meu quarto

Em uma noite em que a lua devorava o meu ser.

Olhei pela janela de ferro com dor em meus olhos

E vi um homem levantar sua espada.

Minha mente não quis acreditar no que via

Meu peito bateu desenfreado num ritmo ilusório.

Perguntei se Deus estaria ali.

Dizem que ele está em todos os locais.

O homem com suas vestes militares

Embainhava toda sua fúria contra um velho senhor.

De olhos tristes e marejados, humilhados...

Após receber um golpe em seu rosto.

Ao lado, outro homem de asas queimadas...

Segurava uma pá ao lado de uma cova aberta.

Uma lápide e um epitáfio que não pude ver,

Senti medo como um menino com medo do monstro.

O militar levantou a espada contra os céus e desembainhou-a,

Transpassou o senhor.

Depois os dois o colocaram na cova, enquanto uma chuva triste caiu...

O homem de asas queimadas enterrou o senhor de vestes brancas.

Após isto, os dois saíram e entraram em suas carruagens;

Com cavalos feitos de fogo

E partiram para o infinito.

Imagino que para o inferno.

Com uma coragem do fundo do meu peito, com um cálice de curiosidade.

Desci as escadas e fui até a cova com passos lentos

As águas do céu tocavam a minha pele com ternura

A lua cheia deixava o lugar bruxuleante.

Com dificuldade, cheguei.

Coloquei a minha mão direita sobre os olhos.

Protegendo as lágrimas do céu, para poder enxergar.

E não consegui ficar de pé.

Ajoelhei, como se meu corpo fosse puxado para a terra...

Escrito: "Aqui jaz um cidadão".

Imediatamente, um pensamento final passou pela minha mente.

Seria possível?

Abaixo daqueles sete palmos, poderia...

Chorei, chorei como uma mãe que perde um filho.

A lápide dizia mais:

"De nome Jesus, amado pai e fantástico filho".

Não sei se aquilo era real.

Acordei com terras em meus pés

Pela janela, vi o sol radiante.

Fui até o banheiro e lavei o rosto.

Olhei para o espelho, senti algo.

Seria Deus? Dizem que Ele está em todos os locais.

Liguei a televisão e vi:

"Policiais matam jovem de quinze anos".

A minha mente pesou

Os meus lábios tremeram

Tive vontade de gritar

Mas me contive.

Pensei em chorar como costume

Descobri que essa notícia se tornou normal em nosso cotidiano.

Rotina...

Perdemos a nossa cidadania.

Sérgio Siverly
Enviado por Sérgio Siverly em 11/05/2011
Código do texto: T2963069
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