o aluno

me fala que tangencio a poesia

que nunca que poderei chegar lá

me fala de alegoria

eu falo de shangrilá

me diz que é pouco rico o que escrevo

me faltam motivo, risco, emoção

reclama do meu enredo

reclama do meu blusão

alega que sou passado, mobília

que estou dentro do inventário

me sinto isolado na ilha

ou esquecido no armário

discorda dos versos longos, sem peso

sem cheiro ou sabor da flor do algodão

vai logo me dar o desprezo

vou logo pedir-lhe perdão

reclama que eu nunca tive uma trilha

um rumo, um conteúdo bacana

escuto e boto pilha

pra ver se ela se engana

um dia queixou-se da minha rima

tentei versos livres, mas ela nem viu

e me disse ainda por cima:

"a sua poesia sumiu"

por fim, me aconselhou a desistir

da idéia de querer versejar

pois não tenho o que exprimir

e nem como me expressar

e disse que o que a entristece é ver

que enfim eu não sei poetar

eu teimo em querer aprender

mas ela não quer me ensinar!

Rio, 21/06/2006