Nós, Palavras (aqui se faz, aqui se paga)
Não quero que escrevam em mim
Não quero que me escrevam
e se eu me escrever, mato-me
ficando vivo nas palavras
E penso que vivo entre palavras
que escrevo por aí, aqui,
Palavras que se amontoam
e cochicham, sem muita gentileza
Cochicham pra mim, de mim,
e arregalam-se, sem esperteza –
Despertam outros tantos rumores
Ruminam outras tantas despesas
Despesas do leitor, o homem,
que come do pequeno deus
O Escritor – que cria dívida:
paga pelo gosto a palavras
Palavras!
Essas que uso para me escrever
e mato-me assim por querer
deus que sacrifica-se pelo homem
homem que escreve deus e nele
De repente
já não sabendo quem é quem