O LIXO PUTREFATO
O L I X O P U T R E F A T O
Neste filme o povo leva minhoca
Além de serem picados por escorpiões
Também querem tudo de graça
Jamais enchem a pança
São quadrúpedes ruminantes
Os mocinhos são os estadistas
As secretárias são as mocinhas
Os urubus são os figurantes
O gambá é o câmera-man
No filme “o lixo putrefato”
A primeira cena é no escurinho dos corredores
Onde um tucano e uma borboleta se beijam
Apesar de brigarem nas tribunas
O vaga-lume alagoano é de fato e de direito o vilão
Ele carrega nos ombros um candelabro
Na segunda cena as CPIs se reúnem para nada
Fazem acareações dos não envolvidos
Por instinto “vazam” de Brasília
Voltam a se encontrar no congresso
Onde trocam conselhos e amenidades
Na próxima tomada; pasta a vaca cearense
Dos seus mamilos pinga sangue branco
O jabuti baiano rouba a cena
Irrompe no cenário dando pinotes
E batucando num tambor
O diálogo dos atores é no idioma politiquês
Com pronúncia do dialeto dos batráquios
Têm medo da língua do tamanduá do Amapá
Mas a comissão de ética facilita-lhes
O lobo de Minas pondera a contenda
Na câmara federal ninguém é camaleão
Todos são cascavéis sem guizos
Acochambram nos conformes dos sumiços
As raposas yanques aprovam as baixarias
As hienas européias transferem as sobras
Os carcarás paulistas comem pintos e orçamentos
Engasgam-se com as propinas
Não importam a sangria no fisco
Este é a galinha dos ovos de ouro
O manjar dos deuses no Olimpo
No sete de filmagem gatos e ratos confraternizam-se
O mamute de Goiás fuma cachimbo
O hipopótamo carioca puxa o samba
Fazem a festa do acasalamento dos partidos
No ar uma inhaca de jaratataca
O tatu gaúcho e a rã goiana fazem sexo oral
Por ciúme os macacos jogam bosta nos sagüis
Estremecem as curvas da pantera capixaba
A libélula alagoana é estuprada pelo tapir pernambucano
O grilo paranaense traça a corça potiguar
No camarim os viados passeiam se insinuando
A veloz preguiça candango brinca de roda
A coruja maranhense sombreia os olhos
E exibe no pescoço uma esmeralda bruta
Que assanha a formiga tocantinense
O pombo acreano não é mais correio
As mensagens vão pela internet
São vorazes os gafanhotos mato-grossenses
Querem acabar com a urna eletrônica
Para amarrarem um elástico em cada cédula
Os flashs incandescem a corrupção irracional
De ternos e gravatas chegam os leões
São os chefes do STF: os donos do poder
Cessa o burburinho geral
Aumenta o consumo de drogas
Na explanada é eleita uma suruba
PMDB fode o PSD
PT fornica com o PSOL
PTB enraba o PSC
Todos comem todos: troca-troca
Seus domicílios são misteriosos e ignorados
Nas suas casas são sacrossantos e imaculados
No particular são impenetráveis
De vidas íntimas intransponíveis
De moral reprovável e irretocável
(agosto/2007)