Torto

Faz muito tempo

Que eu não penso em poesia

Mais tempo ainda

Que eu não paro pra escutar.

O Direito endireitou a minha poesia

Meus versos hoje têm métrica

Estou sempre preocupado

Com o esquema ABBA

E se não faço decassílabos

Para que continuar?

Cada norma que estudo

Tenho vontade de transgredir

Leio teorias

Que nunca serão práticas.

Direito civil

É pra quem nunca amou

Os comercialistas

Nunca tocaram uma empresa

E os penalistas

Nunca foram a uma prisão.

A Constituição é muito bonita

Mas não põe o pão na mesa de ninguém

É bonito ter direitos e garantias

Melhor ainda é nunca deles precisar.

O Direito processual

Emburrece os juristas

Pra que regular

O que nem deveria existir?

Direito do trabalho

É pra quem não tem que trabalhar.

Nossos livros são doutrinas

Nossos amores, concubinato

E nossos amigos

São terceiros envolvidos.

Os administrativistas

Não conhecem o serviço público

Direito tributário

É uma grande hipocrisia

Quem quer pagar

Somente por prazer?

Eles tentam filosofar

Mas sua filosofia é jurídica

E suas teorias

Meramente dogmáticas.

Nossos finais de semana

São dias não-úteis (inúteis)

Nossos remorsos

São litispendências

E nossos familiares

Estão impedidos de depor.

Eu quero fundamentar uma petição

Com um romance de Balzac

E ensinar a Justiça

Numa partitura musical.

Aleixo Prístino
Enviado por Aleixo Prístino em 01/05/2011
Código do texto: T2941794
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