Nadadeiras de asfalto

Invisível na calçada, ao lado do relógio.

Entorpecido e camuflado em sim mesmo.

Imperceptível, deitado no chão treinando

Várias posições de defunto.

Mãos e pés largos

Como nadadeiras de asfalto.

A morte vem com o amanhecer,

Mas a noite o chama de volta.

Lá está ele embebido em culpa.

A culpa por existir,

A culpa pelo parto e por não partir

Num mundo sem regras,

Sem amanhã, sem depois.

Cheio da rotina do improviso,

Escravo de um estômago constantemente vazio.

Musculoso aos oito e faminto sempre.

Numa vida teimosa

Em que a velhice o abraça aos vinte.

Paulo Fernando Pinheiro
Enviado por Paulo Fernando Pinheiro em 28/04/2011
Código do texto: T2935488
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