Nadadeiras de asfalto
Invisível na calçada, ao lado do relógio.
Entorpecido e camuflado em sim mesmo.
Imperceptível, deitado no chão treinando
Várias posições de defunto.
Mãos e pés largos
Como nadadeiras de asfalto.
A morte vem com o amanhecer,
Mas a noite o chama de volta.
Lá está ele embebido em culpa.
A culpa por existir,
A culpa pelo parto e por não partir
Num mundo sem regras,
Sem amanhã, sem depois.
Cheio da rotina do improviso,
Escravo de um estômago constantemente vazio.
Musculoso aos oito e faminto sempre.
Numa vida teimosa
Em que a velhice o abraça aos vinte.