MURO DA EXCLUSÃO
Onde está aquela gente,
Minha tribo que procuro,
Que sorria de contente
E sem medo do futuro?
Onde está o seu batuque
Que já surdo não escuto
Onde está o sol, o sal,
Onde está o carnaval?
E as noites de seresta,
De pandeiro e violão?
Todo mundo sempre em festa,
Os festeiros, onde estão?
Minha gente eu procuro,
Tateando a escuridão,
Mas cercado pelo muro,
Eu pergunto, onde estão?
Dentro do muro se vive,
De medo, eu não sei de quem,
Pois medo só reside
Na alma de quem o tem.
Fora do muro, o excluído,
De vexatória exclusão,
Como se fora banido,
Da própria constituição!
Onde está este meu povo
Que era todo esperança,
Onde está o mundo novo
De quem espera sempre alcança?
Dentro do muro, o fazendeiro,
Não tem com quem trabalhar.
Nem empregado ou meeiro
Não querem a terra roçar.
Fora do muro, os “sem terra”,
Não têm como trabalhar,
Não têm vargem e nem serra,
Mas querem a terra roçar,
O empresário, dentro do muro,
Deste mundo globalizado,
Quando sai de casa, no escuro,
Tem o seu carro roubado ...
Fora do muro, o favelado,
Sem emprego, sem o pão,
Sempre é marginalizado
Pela antiga servidão...
Deste mundo, construtores,
Arquitetos da exclusão,
Somos todos nós autores,
Desta imensa escravidão...
Vamos buscar, minha gente,
A tribo que eu procuro,
Que sorria de contente
E fazer outro futuro!