O HIPOCONDRISTA

O H I P O C O N D R I S T A

Hipocondria é classificada como uma disfunção, não uma doença

Antigamente era chamada de paranóia das vísceras

Também é conhecida como a neurose de doenças

O hipocondrista vive com a suspeita constante de ter doenças graves

O médico pode cometer negligência e não achá-las

Dá importância demais a qualquer sinal físico ou dor

Tem sempre a impressão de que qualquer dorzinha

Ou desconforto é sinal de doença grave

Apresenta uma personalidade carente

Vê tudo sob uma perspectiva sombria

E acaba se viciando na permanente atitude egoísta

Só olha para o próprio umbigo

Toma remédios com freqüência, sem prescrição médica

Tem necessidade de consultar vários médicos

Apesar de vários deles terem feito o mesmo diagnóstico

Mistura substâncias que não combinam

Pode desencadear vários efeitos colaterais

As principais queixas do hipocondríaco:

A insônia, a enxaqueca e a labirintite

Freqüentemente toma comprimidos para dormir e antidepressivos

O grande perigo na verdade, é a automedicação

Têm tendência à depressão, tristeza e ansiedade

Desconfiança permanente em relação às condições gerais da saúde

Medo constante de morrer

Compulsão por conversar com pessoas doentes para comparar sintomas

Sensação de segurança ao tomar remédios

Mesmo sem a presença de sintomas

Permanente insatisfação, negativismo e desatenção

Constantes chorumelas em relação à vida

Mesmo exames e os resultados negativos

Continua numa busca incessante

O hipocondríaco normalmente sente-se injustiçado

Incompreendido pelos médicos e parentes que não acreditam nele

É enfadonho, repete constantemente as mesmas ladainhas

Além de ser prolixo nas suas explicações

Não se conhece medicação específica contra

As mulheres estão mais sujeitas a hipocondria

Afinal, quem nunca cismou em estar doente?

Qualquer sintoma exige respeito, mesmo que seja bizarro

E hipocondria coletiva, existe...

Se uma pessoa famosa fica doente, é batata

Para muita gente, a hipocondria é tema de piada

O hipocondríaco é antes de tudo um chato

Quando viaja, não se hospeda, se interna

No bolso não carrega caneta, mas termômetro

O hipocondríaco faz da bula sua Bíblia

Padece do mal de ter mania de doença

E adora tomar remédios

Ele visita drogarias e não shopping

Está sempre entrando ou saindo de uma gripe

Já tomou todas as vacinas; sofre da coluna

Ingere pela manhã o abecedário em drágeas

Nunca se deita sem antes tomar um chá de ervas

Não tem plano de saúde; prefere cota de cemitério

Gosta de se separar da família para morrer de saudades

Quando alguém diz que ele aparenta boa saúde

Ele fica doente de raiva

O autêntico hipocondríaco carrega sempre uma dorzinha de lado

Uma unha encravada, uma afta na boca

Uma irritação na garganta e umas tonturas estranhas

É a única pessoa que, pelo som distingue sirene de ambulância

Da de viatura de polícia e de bombeiro

Entra na Justiça exigindo prisão contra os radicais livres

O guru do hipocondríaco é Hipócrates

E sua filosofia se resume nesta questão metafísica

“Se a gente nasce deitado e morre deitado”.

“Por que não viver deitado?”

Só assina revistas médicas

Nos jornais, lê primeiro o obituário

Mas, ao contrário do que se pensa

Não quer morrer, isto o curaria

Pena que não possa levantar-se do caixão

E enfiar o dedo na cara de quem chamava de hipocondríaco

Repare como ele, defunto

Traz um sorrisinho de vitória nos lábios

(junho/1989)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 13/04/2011
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