Cachorra
Entre carros enfileirados no trânsito caótico da cidade
segue cabisbaixa farejando sua subsistência.
Sua aparência triste e de abandono inspira a compaixão sem ação de alguns.
O farol abre e os motoristas apressados saem agressivamente,
Enxotam-na, buzinas e gritos avisam-na para que saia.
“Sai! Xô, sai!”
As pernas fracas, cobertas por sarnas tornam difícil a caminhada.
O sol está a pino, quente... É hora do almoço.
“Que cheiro bom! Que delícia! É cheiro de filé, de carne , de feijão...”
Sente sua barriga roncar, na boca um gosto amargo de fome.
Sinal vermelho.
Os carros param novamente.
Vidros escurecidos, fechados,
Expressões de desprezo.
Ela começa a se movimentar entre os carros,
bate aqui, bate acolá.
O instinto de sobrevivência lhe dá forças.
Precisa comer, se alimentar,
mais que isso, tem que conseguir um bom dinheiro,
senão vai apanhar ao final do dia
quando retornar ao lugar de imundície onde vive.
Tão pequenina e suja, cinco anos de vida,
faz uma nova tentativa...
Desta vez, uma alma gentil responde ao seu apelo.
Abaixando o vidro do carro,
com um sorriso meigo e iluminado, entrega-lhe um pacote de bolachas, olha-a nos olhos e diz:
"Quê lindinha! Qual é o seu nome?"
A pequenina parada ali, queimando os pés no asfalto quente,
responde naturalmente:
"Cachorra, tia. Eu se chamo Cachorra."