AS FAVAS DA HERA

Homem não, meu Deus,

pau sem galho,

sombra sem filho,

bebê sem mimo.

Cria de gente que geme

com a dor que virá

que jamais será flor,

que jamais brotará.

Será homem, meu Deus?

Bicho gente

que cheira, sente e pensa,

e penso puxa o prazer

do sexo de dentro do ser

que só sente.

Quem será homem?

Quem serás, homem?

Cria de ontem em nós,

que geme nas entranhas

ardentes de hoje...

Que és, homem?

Gemes com a dor que

ordenhas,

e te alimentas com as

velas quentes que dissolvem

tua cor

e torna disperso teu

ventre.

Vulto meio tom, sem cor.

De homem com rostos queimados

pelo manto da flor

(santo sem dó)

cuja vida a fome consome,

o homem,

fora da nave dos entes

brilhosos sem cor,

de corpos ardentes

sem calor,

dos objetos da fome.

(poema publicado no livro Cúmplices, de 1993)

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 30/03/2011
Reeditado em 30/03/2011
Código do texto: T2880588