AS FAVAS DA HERA
Homem não, meu Deus,
pau sem galho,
sombra sem filho,
bebê sem mimo.
Cria de gente que geme
com a dor que virá
que jamais será flor,
que jamais brotará.
Será homem, meu Deus?
Bicho gente
que cheira, sente e pensa,
e penso puxa o prazer
do sexo de dentro do ser
que só sente.
Quem será homem?
Quem serás, homem?
Cria de ontem em nós,
que geme nas entranhas
ardentes de hoje...
Que és, homem?
Gemes com a dor que
ordenhas,
e te alimentas com as
velas quentes que dissolvem
tua cor
e torna disperso teu
ventre.
Vulto meio tom, sem cor.
De homem com rostos queimados
pelo manto da flor
(santo sem dó)
cuja vida a fome consome,
o homem,
fora da nave dos entes
brilhosos sem cor,
de corpos ardentes
sem calor,
dos objetos da fome.
(poema publicado no livro Cúmplices, de 1993)