Poeticamente rua
Quantas vezes, e muitas vezes
A prece do meu olhar triste
Cruzou o seu, e entendi.
A ligação que nos atrai
A unificação da canção que sai
Uma tela pintada em preto e branca
Numa ausência do necessário.
Somos ligados pela pobreza
Por isso, escorre dos meus olhos lágrimas
Sem entender, fui entender.
Que os pequenos querem ser grandes
Que a frustração tem o peso do elefante
E a desigualdade é uma medalha em nossas estantes.
Lutamos para enriquecer o alheio
Que sem valorizar
Nos aterroriza
E escreve nossas almas na negra lista.
Pedem, suplicam, por nossa conversão
Mas negam o pão
E nos dão favelas como colchão.
Não que seja ruim a moradia
Mas comemos maças mordidas
E a valorização da nossa vida
Passa, como passa a brisa.
Agora temos escolhas
temos armas, temos nossas musicas
Nossas forças.
Terror para os que vivem em prisão luxuosas
Revolução, aos que sempre viveram na marginalização
Poesia suburbana, contada na oral tradição.
Corre pelo asfalto quente
Sem camisa, faltando alguns dentes
Viatura atrás, vielas na sua frente.
Se sente seguro
Recarregando o pente
Coração disparado
Atravessa a rua e é atropelado.
De um lado, um vermelho lago
De cima para baixo, o cuspi do homem fardado
A negra senhora corre em prantos.
Senti a partida do seu filho
Sem gloria
Sem honras
Sem Brilho...
As cores do fracasso
Pintam a rua sete
Seus meninos são resultados
Do mundo do Acaso.
No descanso da multidão
Na multidão dos vários nãos
Um sim é esperança.
Se apega na leitura
Do Jesus Sofrido
Que vaga como mendigo
Nas escuras ruas.
A unção derrama no morro
O socorro
A prece
A morte
O choro...
Dias de trovões
Que as águas levam o passado
Passado entre os dedos, na descendência dos netos.
Os reais medos.
Coragem corrompida
Vida dividida
Medida que se foi perdida
Sociedade cega pela escolha
Sem querer negam a negação
E partilham do soberbo pão
No fim o menino não tem mais nome
É apenas mais um Jão.