Dependência química

(Esta poesia faz parte de uma trilogia que foi feita a pedido de um participante do Movimento  AA - Alcoólicos Anônimos)  

Era uma vez um menino
Que era frágil e franzino,
Diferente do outro irmão.
Somente por este motivo,
Por ele não ser tão ativo,
Recebia mais atenção...

Mas sobrava inteligência,
Mesmo com pouca vivência
E aos seus pais manipulava...
Era sempre o coitadinho
E logo fazia beicinho
Quando alguém contrariava.

Mas coitado, era tão frágil,
Como outros, não era ágil,
Precisava ser protegido...
E deste modo foi crescendo
E a ninguém mais atendendo,
Desaforado, atrevido...

Quando era contrariado,
Ficava de fato zangado
E sumia, se isolava...
A família preocupada,
Sentia-se despreparada
E a todos amofinava...

Já agora, adolescente
E querendo ser diferente,
No seu corpo fez tatuagem...
Cobras, lagartos, escorpião...
E se gabava da coragem
De ter tatuagem na mão.

Um dia, quando em casa chegou,
Estava torto, cambaleou...
“Mas que tristeza, ele bebeu!
Foi mal influenciado
Por um amigo transviado,
Com quem, coitadinho, se meteu”...

Mas não foi fato isolado,
Para o pobre do coitado...
Um alcoólatra se tornou.
Todos os bares das esquinas,
Os botecos e as cantinas
O viciado já freqüentou...

A família acobertava
Tudo aquilo que passava,
Que causasse constrangimento...
“Vítima da circunstância,
De um trauma de infância...
Mas tem muito bom sentimento...

A situação piorando
E o quadro se complicando
Com toda espécie de droga...
A família se divide,
É um que ao outro agride,
Enquanto o filho se afoga...

Esta estória é comprida
Porque é relato de vida,
Família em separação...
Mas como um exemplo serve,
Para que ela se conserve,
Como forma de superação...

Quero socorro, me acuda,
Preciso de uma ajuda,
Quero sair da dependência...
Se sou doente e não nego,
Na escuridão, como cego,
Peço ajuda e clemência...

Se reconheço a doença
Que me causou a desavença,
Sei que ela é incurável...
Mas seguirei todos os passos
E segurarei outros braços...
Ela se tornará tratável!