Menino!

Senta pra comer menino!

Para pra beber.

Sozinho.

Para de gemer baixinho.

Para de sofrer.

Parar de sofrer.

Sombras!!!

Olhar espantado,

Na esquina.

Correr pra fugir,

Da sina,

Se apaixonar pela linda menina,

Da infancia distante.

Estenda a mão.

Pra apanhar de palmatória,

Abra os ouvidos.

Pra ouvir a oratória,

Do pai, da mãe, da tia.

O tira atira.

Ta lá o corpo estendido no chão.

O tiro furou o pulmão,

Outro no coração.

De fuzil.

Nem saiu no jornal, tudo normal.

Menos um marginal,

No Brasil.

E o menino que sofreu,

Tanto correu, soltou pipa,

Jogou bola, fugiu da escola,

Cheirou cola.

Perder tempo com esse menino!

Que não conseguia aprender.

Pra que?

A chuva cai, se mistura com o mar.

O sangue que jorra na valeta,

Vai parar na sargeta.

Mata a sede da terra

Sedenta de vida.

Será sorte, ou falta dela?

E o forte sobrevive.

O rico avança, se adianta,

Soberano, insano,

Consumindo, destruindo.

Até que surge a arma.

Da justiça nada se espera.

Seio murcho, sem vida.

Não alimenta.

Os sonhos doces, se tornam amargos.

Para de correr.

Para que correr.

Não adianta,

Nada.