A TERRA PROMETIDA
Vendam-me um dia de sono
pois o nada que em engorda
aperta o nó da corda no pescoço
e eu consumo a sobra do pó
que superficializa a expressão
do rosto.
Vendam-me um dia de sol
pois o fogo não me deixa
dormir
ademais busco trabalho
como quem busca água pra
beber
e o sol faria a sombra
onde eu poderia descansar.
Eu compro o céu para meu
deleite,
viverei na terra prometida
onde emana mel e leite,
onde se come pão sem
dinheiro
onde se planta sem
latifúndio
onde se é um ser, e se está,
é igual, tudo de todos.
Comprem meus pés.
Têm alguns calos,
estão um pouco magros
mas lhes ajudarão a andar.
Vejam minhas mãos,
também estão à venda
são secas, crespas...
mas estão estendidas.
Vejam meu corpo,
é o último esforço que faço
para me alimentar
use-o, morda-o, manche-o...
.......................................
........é meu último esforço...
Vendam-me um dia de sono,
mas que seja profundo
que mostre-me a terra
prometida,
onde emana leite e mel
e, dizem, todo ser é igual
onde emana mel e leite
e meu corpo é meu
e meus dias serão sem ais.
Dêem-me a terra e me
alimentarei,
sem dinheiro terei o pão
com o gosto puro do suor.
Sem dinheiro terei o pão,
com mel e leite.
(Obs.: poema publicado no livro Assim se Fez)