A TERRA PROMETIDA

Vendam-me um dia de sono

pois o nada que em engorda

aperta o nó da corda no pescoço

e eu consumo a sobra do pó

que superficializa a expressão

do rosto.

Vendam-me um dia de sol

pois o fogo não me deixa

dormir

ademais busco trabalho

como quem busca água pra

beber

e o sol faria a sombra

onde eu poderia descansar.

Eu compro o céu para meu

deleite,

viverei na terra prometida

onde emana mel e leite,

onde se come pão sem

dinheiro

onde se planta sem

latifúndio

onde se é um ser, e se está,

é igual, tudo de todos.

Comprem meus pés.

Têm alguns calos,

estão um pouco magros

mas lhes ajudarão a andar.

Vejam minhas mãos,

também estão à venda

são secas, crespas...

mas estão estendidas.

Vejam meu corpo,

é o último esforço que faço

para me alimentar

use-o, morda-o, manche-o...

.......................................

........é meu último esforço...

Vendam-me um dia de sono,

mas que seja profundo

que mostre-me a terra

prometida,

onde emana leite e mel

e, dizem, todo ser é igual

onde emana mel e leite

e meu corpo é meu

e meus dias serão sem ais.

Dêem-me a terra e me

alimentarei,

sem dinheiro terei o pão

com o gosto puro do suor.

Sem dinheiro terei o pão,

com mel e leite.

(Obs.: poema publicado no livro Assim se Fez)

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 08/03/2011
Reeditado em 23/03/2011
Código do texto: T2834524