Safo (Garotos de rua - Recife)

A mão do irmão o deixa com frio

Leva o papelão, não teme desafio.

É a liberdade nas bocas do lixo

Centro da cidade é sempre tudo bicho

Muito grude no pescoço e no resto do corpo

Muito cheiro de urina em cada esquina

Pernas passam pela vista sem entrevista

Não sabe se tropeça ou se pega a pista

Cheirinho bom, pra melhor, quase o leva dessa.

Como não passa a fome, se liga na peça.

Não come nada e some no próximo desvio

A cada minuto é novo calafrio

Apanha no sinal que não é seu ponto

Na corrida final pára e fica tonto

Soltaram-se as tiras, perdeu a sandália.

O tio daquele celta lhe deu dois conto

Mas não é otário pra aceitar carona

Melhor ir para praia que tem umas dona

Dá muita bobeira atrás das cadeiras.

Ônibus devagar, dá pra se pendurar.

A porta tá fechada sem deixar a brecha

Mão escorregando Eita! Que merda é essa?

O mundo rodando, sangue pelo asfalto.

Muita gente olhando, espaço pelas pernas.

Os carros parando, está vendo do alto.

Boy de uns 7 anos deitado no asfalto