Avenida Eudardo Ribeiro
Chega finalmente á época do ritual, o ritual dos preços.
A família sai em peregrinação pela rua.
A senhora entra em êxtase com o conjuntinho rosa.
O garoto em transe graças ao jogo de videogame na sua frente.
A intervenção divina manda um queima estoque.
Num momento tão profundo como esse o homem reflete:
O que minha preta quer mesmo?
A mulher ali faz uma bela exegese e chega á revelação:
O carnê é um meio de dominação.
No frenesi, um instante de solidariedade:
O vendedor pechincha com a cliente devido á sua idade.
No pórtico de cada loja, digo templo, uma mensagem ecumênica:
Liberte seus desejos e use seu cartão.
A tarde reflete na cúpula dourada ao fundo.
Longe de lembrar Jerusalém, a cúpula é apenas uma figura marginal nesse festival de sacolas.