a Machado

Não quero saber se Capitu traiu ou não,

Enquanto o menino mais novo vira ladrão

E o mais velho acaba de morrer

Na mão da polícia,

Ainda sem saber o por quê,

Em uma das favelas do Brasil.

Uma estrangeira de renome

Afirmou em sua tese pra doutora:

Bentinho era maluco, esquizofrênico,

E entranhou essa dúvida na gente!

Vai ver que o maluco aqui sou eu,

Que estou pedindo uma explicação:

Pra quê eu quero dúvida,

Se eu tenho a certeza

De que há por aí uma Macabéa

Ou um Fabiano passando fome?

E também um escroto como o Acácio,

Que se diz chique, inteligente,

Mas não tem noção do que se passa ao seu redor;

Ou o que é pior: sabe, mas não quer fazer nada,

Senão comer as nádegas da mesma empregada

Que ele explora sem motivo.

Ou também uma Aurélia.

Dessas que anda de carrão e motorista,

Morrendo de medo dos Capitães da Areia,

Que hoje fazem malabares no sinal.

Dessas que sonham com o príncipe

Que vão encontrar no shopping.

Pode até ser um jogador de futebol,

Afinal, são todos muito lindos,

Apesar do pouco dinheiro.

Bah!

E eu tenho que bajular Assis?

Mas se o Machado cortou sua raiz

E se esqueceu do morro!

Eu, de berço burguês,

Mas alma proletária,

Não vou esperar a morte

Pra falar o que eu penso,

Como fez Brás Cubas...

(Ei! Eu ainda penso!)

OBS: Título extraído de uma das poesias do meu grande amigo Vermelho.

Raul Ribeiro
Enviado por Raul Ribeiro em 25/06/2005
Código do texto: T27726