a Machado
Não quero saber se Capitu traiu ou não,
Enquanto o menino mais novo vira ladrão
E o mais velho acaba de morrer
Na mão da polícia,
Ainda sem saber o por quê,
Em uma das favelas do Brasil.
Uma estrangeira de renome
Afirmou em sua tese pra doutora:
Bentinho era maluco, esquizofrênico,
E entranhou essa dúvida na gente!
Vai ver que o maluco aqui sou eu,
Que estou pedindo uma explicação:
Pra quê eu quero dúvida,
Se eu tenho a certeza
De que há por aí uma Macabéa
Ou um Fabiano passando fome?
E também um escroto como o Acácio,
Que se diz chique, inteligente,
Mas não tem noção do que se passa ao seu redor;
Ou o que é pior: sabe, mas não quer fazer nada,
Senão comer as nádegas da mesma empregada
Que ele explora sem motivo.
Ou também uma Aurélia.
Dessas que anda de carrão e motorista,
Morrendo de medo dos Capitães da Areia,
Que hoje fazem malabares no sinal.
Dessas que sonham com o príncipe
Que vão encontrar no shopping.
Pode até ser um jogador de futebol,
Afinal, são todos muito lindos,
Apesar do pouco dinheiro.
Bah!
E eu tenho que bajular Assis?
Mas se o Machado cortou sua raiz
E se esqueceu do morro!
Eu, de berço burguês,
Mas alma proletária,
Não vou esperar a morte
Pra falar o que eu penso,
Como fez Brás Cubas...
(Ei! Eu ainda penso!)
OBS: Título extraído de uma das poesias do meu grande amigo Vermelho.