Antítese

Segue na rua a procissão,

E o vai e vem na calçada,

Das rameiras devotas.

E dos romeiros devassos.

De um lado uma senha divina,

De outro uma sanha danada,

Do ateu que a santa venera,

Ao fiel e a venérea chaga.

De joelhos em preces serenas,

Confere a carteira recheada.

Reza ligeiro o Padre Nostro,

Com o chefe da “cosa nostra”.

A hóstia alimenta o espírito.

A droga, moeda do vicio.

Clama ao Pai pela salvação,

E pede pela mãe um trocado.

Desfralda a bandeira da fé,

Põe a consciência na maré.

Na igreja segue a oração

Na Bolsa comanda o leilão

Acende uma vela a Deus

E outra ao fariseu.

Religião por atacado

Com santo canonizado

Professa uma fé sem bandeira

E faz no espiritual sua carreira

Com as mãos para o alto, contrito

Agradece a Deus... E aos juros.

Será este nosso destino?

Acender uma vela a Deus

E outra... a quem pagar mais.

João Drummond
Enviado por João Drummond em 23/01/2011
Código do texto: T2747619
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