TODA MULHER É MARIA

Li em mais de um Poeta

- tomo o Sol e a Lua testemunhas –

que toda mulher é Maria

ou queria tê-la sido.

Também eu sou Maria

- por que seria diversa?

Também sei que em todo homem

- ou em quase todos eles–

de ocidental estirpe

há um sultão saudoso

e disfarçado

mal-e-mal

- basta um arranhão no verniz

e lá vem ele, em triunfo.

A Maria em mim, tadinha,

leva tanto tranco... tanto...

A Maria em mim, tadinha,

sempre tentou-se viver

também uma outra

com liberdade nos olhos

com liberdade nos gestos

e deve ter sido este

seu pecado ou mesmo crime

que a História

por trás das máscaras

muda nada dos papéis

muda nunca, nadinha.

Ei-la, maria-vai-com-as-outras,

assim, diante de tribunal

sem rosto

diante de júri

sem rosto

diante de testemunhas

sem rosto

diante de juiz

sem rosto

mas já com a sentença pronta

desde antes do julgamento.

Ei-la, a maria sem cara

de Maria

sem cara

de maria-vai-com-as-outras

sem cara

de maria-sem-as-outras

ei-la

tadinhas

tadinhas

delas todas.

Na manhã de 23 de janeiro de 2011.