As rugas da alma
As rugas da alma
Os anos, já não os tenho
Ou os tenho demais?
As experiências de décadas
Centenário, talvez
De nada servem
Não posso passá-las
Ninguém irá me ouvir.
A pele irregular
O cabelo cristalizado
Olhos fixos no horizonte.
Pés revelam
Os caminhos percorridos.
De que adianta
O saber?
O ouro?
A certeza?
Sou uma voz no silêncio!
Sou a inquietação
Dos que me ignoram.
A mente guarda
Marca, revela
Constrói consciência
Do ser
De um povo.
Agora...
Reduz a cinzas
Os diálogos
Os discursos
As realizações
A flacidez de uma vida
As incertezas de um coração.
Os amores
As dores
As revelações
Expiraram
Desapareceram em pó.
Só mãos e pernas
Passam afoitas
Agem, reagem tão ingenuamente
Não conhecem o final.
Posso prever
O que virá
Privilégio?
Só daqueles que desdobram dias...
Sol após sol
Escuridão após escuridão
Suor após suor
E revelam um coração centenário
Jovem para amar
As rugas da alma.