Anjo: o poema da criança espancada.
Ah, seus olhinhos pequeninos!
Olhinhos azuis.
Azuis da cor do céu.
Olhinhos de anjo!
Olhinhos que por amor pedem e que por alegria imploram.
Olhinhos que desejam ver a luz, mas só encontram a escuridão.
Ah, sua boca pequenina!
Boca de anjo.
Boca feita para recitar poesia.
Boca que aprendeu a xingar, depois de tantos tapas levar.
Ah, suas mãos!
Mãozinhas de anjo.
Mãozinhas que de tanto serem surradas já não são tão delicadas.
Ah, seu sorriso.
Sorriso de anjo.
Sorriso marcado pela boca repleta de dentes quebrados.
Ah, seu corpinho!
Corpinho de anjo.
Corpinho todo marcado por feridas tão profundas e doloridas, que chegam a doer até na alma.
Ah, essa criança!
Criança, que hoje já não tem mais jeito de anjo.
Criança marcada: desamparada e por todos abandonada.
Criança que desaprendeu a sorrir, e agora só faz xingar.
Criança que era um anjo, e hoje é apenas uma sombra do que era e jamais será novamente.
Ah, seus olhinhos pequeninos!
Azuis da cor do céu.
Olhinhos de anjo.
Olhinhos que apenas imploram.
Imploram por um sorriso, por uma alegria.
Mas, ela só ganha violência e mais violência.
Ah, sua boca pequenina!
Boca que jamais poderá recitar uma poesia, pois depois de tantos tapas levar, só aprendeu a xingar.