MIRAGENS

Querubins esfomeados

de cabelos em carrapicho

vagando, maltrapilhos,

maltratados, mal queridos

nos desertos das cidades

Com que tristeza percebem

que é só miragem a caridade

de algum pedaço de pão !

Tanta ingratidão, por quê ?

- São teus também estes filhos?

- São tuas estas sementes?

Prisioneiros das ruas crescendo

desbravando esgotos

perdendo os dentes

perseguindo a sobrevivência

em liberdade errante

e às aves de rapina

ceifadoras de vidas prematuras

entregam-se delirantes.

Com que aflição percebem

que é só miragem a paz

de algum pedaço de sonho!

Tanta carência, por quê?

- São teus também estes filhos?

- São tuas estas flores?

E depois, na desesperança

andando em círculos

procurando seus restos

ou suas meninices

perdidas num bueiro qualquer

nunca levantando os olhos

pra não verem o que nunca

gostariam de perceber

que é só miragem a lembrança

de seus pedaços de vida.

Tanta injustiça, por quê?

- São teus também estes filhos?

- São teus, Deus, estes frutos?

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Esta é antiga. Só postei pela saudade que ando da Adelina.