Pensamento

O barco avança rasgando as límpidas águas oceânicas...

Nele, sou parte da carga humana envolta num misto de algazarra e silêncio

À minha direita, negras macambúzias sobraçam os parcos víveres...

Sustento da prole.

Enquanto seus homens se lançam desesperadamente aos mares bravios à cata de mais alimentos.

À minha frente outras pobres mulheres, calejadas do dia a dia,

estampam, na face, o ingênuo sorriso e a esperança de vencer...

E pensam:

Derrotar o tédio!

Vencer o medo!

Driblar a morte!

Sobretudo viver!

Porque viver é o maior risco.

As da esquerda também pensam e

sofrem...

Há, contudo, alguém na embarcação imune a mazelas.

Penso:

São uns bastardos...!

Uns mesquinhos...!

Que usam a exploração humana como escudo ou vivem às suas expensas.

À minha retaguarda nada vejo

Ninguém a pensar...

Nem a sofrer...

Só o salgado mar...

No centro, aqui estou!

Transportando-me para essas sofridas almas que nem as conheço.

E o albatroz se vai singrando sobre as águas límpidas e ondulantes...

Longe avisto o meu destino

Lá já está meu pensamento.

Poema publicado na Antologia:Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 60 da CBJE.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 18/12/2010
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