ELEGIA A JOSÉ MARTELO PNEUMÁTICO

Soa o apito.

Engrenagens roem os tímpanos até o fim.

Atônitos, o deliberado silêncio.

Trabalho e músculo, José,

célula única, vibra,

fibra por fibra,

feito um martelo pneumático.

Líquida e densa,

a tez bronzeada jorra do ventre da fábrica.

O ônibus, sacudida espiral,

é a boca do túnel do tempo:

o vácuo inerte, costurado silêncio.

A amídala, coração anárquico das crianças

– badalo – sinaliza:

um naco de pão, café e cama.

O vento uiva desatinos

como um cão que perdeu o dono

e o barraco treme.

De novo o túnel do tempo: viagens, ilusões,

amor de pernas finas, sem paredes.

Desperta, José, cinco horas, desperta!

E tudo recomeça.

– Do livro FORÇA CENTRÍFUGA. Porto Alegre: Livraria e Editora P. Alegre, 2ª ed., 1979, p. 44:5. Versos reformatados.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2671176