Tártaro

Quebraram minha espada,

cortaram as asas de meus pés,

sugaram a última gota de leite

da mama de minha mãe.

Derrubaram meu pequeno teatro,

queimaram meu olhos usados.

Cego, ouvi mandarem-me fechar os lábios.

Arrancaram-me os ouvidos sábios.

Nunca muda... Nunca muda...

O mapa deste labirinto

se perdeu na rua da esperança.

Passos e mais passos e mais passos

cansam os pés desta criança.

Não tivemos uma mãe pra nos guiar.

Não tivemos um Deus bom para louvar.

E o que resta de nossa tribo:

zumbis que comem o próprio cérebro.

Nunca muda... Nunca muda...

Ah, mamãe, venha me resgatar,

estou me erguendo pelos próprios cabelos.

Ah, Sócrates, venha me contar

os segredos que te obrigaram a retê-los.

Nunca muda... Nunca muda...

Ah, mamãe, este lugar cheira mal!

Meu nariz cheira, mas não fala.

Ah, Noé, onde está sua nau?

Vamos o mais rápido reusá-la.

Nunca muda...

Eterna Nix.

Nunca muda...

Prometeu está preso.

Nunca muda...

Thanatos solto.

Nunca muda...

Dionísio ileso.

JHM
Enviado por JHM em 30/11/2010
Código do texto: T2645318