Tártaro
Quebraram minha espada,
cortaram as asas de meus pés,
sugaram a última gota de leite
da mama de minha mãe.
Derrubaram meu pequeno teatro,
queimaram meu olhos usados.
Cego, ouvi mandarem-me fechar os lábios.
Arrancaram-me os ouvidos sábios.
Nunca muda... Nunca muda...
O mapa deste labirinto
se perdeu na rua da esperança.
Passos e mais passos e mais passos
cansam os pés desta criança.
Não tivemos uma mãe pra nos guiar.
Não tivemos um Deus bom para louvar.
E o que resta de nossa tribo:
zumbis que comem o próprio cérebro.
Nunca muda... Nunca muda...
Ah, mamãe, venha me resgatar,
estou me erguendo pelos próprios cabelos.
Ah, Sócrates, venha me contar
os segredos que te obrigaram a retê-los.
Nunca muda... Nunca muda...
Ah, mamãe, este lugar cheira mal!
Meu nariz cheira, mas não fala.
Ah, Noé, onde está sua nau?
Vamos o mais rápido reusá-la.
Nunca muda...
Eterna Nix.
Nunca muda...
Prometeu está preso.
Nunca muda...
Thanatos solto.
Nunca muda...
Dionísio ileso.