UM DESCUIDO

Daqui pra la

De la pra ca

De porta em porta

De mão em mão

La se vão mais de duas horas

De apurriação

De dor

De aflição

Vergonha

Humilhação

Urgência

Emergência

Sem clemência

Paciência

O pé latejando

O peito sangrando

De indignação

Topada maldita

Uma desdita

Da próxima vez

Vê por onde pisa

Realiza

Quem mandou nascer pobre

Pobre não pode adoecer

Topar

Cair

Desfalecer

Melhor morrer de repente

Sem ser gente

Furar a fila

Enganar a morte

Sem sofrer

Com sorte

Morrer em casa

Na sala conversando

Quem sabe no quarto

Na cama dormindo

Roncando

Sem drama de maca no corredor

Sem chororô

Sem dar vexame na tevê

Pra todo mundo ver

Que horror

Na rua atropelada

Nem pensar

Triste espetáculo

Um corpo estendido no asfalto

Ainda sujeito a assalto

De malandro desalmado

Desassossegado

Se der pra escolher

Melhor morrer de repente

Placidamente

Sem corredor

Sem fila

Sem maca

Sem faca sem facada

Sem bala sem balaço

Num abraço

A sós com os seus

Serena

Calada

Discreta

Anônima

Como sempre viveu.

Alena Ajira
Enviado por Alena Ajira em 25/11/2010
Reeditado em 24/06/2015
Código do texto: T2636215
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