Do capital ao carnaval

Nas grades do tal “cifrão”

Aprisionei minha vida

Perdi minha natureza

Dos pés descalços no chão

Dos sonhos de quando menino

De bom quase nada restou!

Ficou somente o destino

Que o capital transformou

Crescer foi meu grande mal

Perdi a ilusão do natal

Perdi muito mais que ganhei

Por tudo que não paguei

Agora pago dobrado

Perdi meu sonho encantado

E meu prazer pela vida

No branco da margarida,

Já não tem mais bem me quer

Troquei o teor dos meus versos,

Pelo valor do cifrão

Troquei o meu coração,

Por um que não tem sentimentos

Troquei os meus batimentos,

Por ritmos descompassados

Não faço mais poesias,

Falando coisas de amor

Cresci por detrás das grades,

Alimentando o horror

Transformei-me numa besta fera

Que a primavera não vê

Agora minhas melodias

São feitas de notas frias,

De um sustenido sem fim

O sol já não toca em mim

Com seu caloroso encanto

E cada qual no seu canto

Sussurra quase calado

Mas eis que é chegada a hora

De entoar novos cantos

E cada qual no seu canto

Cantar pela liberdade

Viver ao som da verdade

Fugindo do capital

Pisando o chão da avenida

Sambado no carnaval