EGO SEM DESTINO
Vento suave passando no rosto
Meia noite, sereno caindo nas folhas
Roendo então os ratos no esgoto
Molhando suas pernas no orvalho
Frio forte, como frio de agosto
E ele jogado, como cartas de baralho
Ego livre, mas, quase sem destino
Idade, rosto e gestos de menino
Avançava tal noite com tanta escuridão
As pessoas andavam livres em contramão
Os sapatos enchiam de areia
Cabelos molhados de chuva
depois molhando as suas veias
Mãos frias sem luvas
E seu sonho é um canto de sereia
Foi embora a chuva que caia
Hora exata meia noite e meia
Com frio e sono procura uma calçada
Na esquina lá naquela padaria
Lá ele encontra um leito
E sonhava enquanto dormia
Exposto ao vento estava seu peito
Caridade ali ninguém fazia
É assim a sua vida, não tem jeito!
Amanheceu e dormindo ele não percebia
Quando acordou era o sol que já nascia
Tanta gente ia e tanta gente vinha
25 de dezembro, era Natal e ele não sabia
Assim vivem nas ruas muitos abandonados
Enquanto gasta, esbanja e come a burguesia.