Foguetes!

As lágrimas caem do céu

e a gente olha esquecendo

que chora todos os dias

que ao menos junho

nos amorne o desepero

meu povo que sou eu

na beira abismo

mantendo a esperança

hasteada na janela

e viva a bola, a música e a sardinha

povo triste do meu fado

corrido

do barco pró autocarro

emprego tremido

sono inquieto

mas amanhã será feriado

por decreto

morremos de fome

mas olhamos o céu em pasmo

em lágrimas

fazemos ahhh como os meninos

apontando estrelas

vimos

inquietos desdormidos

contando cêntimos

os euros tão caros

tão curtos

enganosos

vivam pois os santos

que fazem o milagre

de abrir sorisos nos rostos

ó pá olha que lindo

até o pedestal de Cristo

tem os arcos pintados de verde e vermelho

dêem-nos circo que o pão nos falta

deem à malta a ilusão da vitória

comprada

uma bandeira em todos os carros

parados à porta

que a gasolina está cara

que império manda agora

os nossos filhos para a guerra

numa colónia feita de areia

ardida

o povo entusiamado grita

portugal...! Portugal...! Portugal...!

pois pouco mais resta

que ser-se patriota!

Almada, 24/6/2004