Cansei ...
Da vida sem sentido,
Dos sonhos sempre perdidos,
Da pobreza itinerante
Que absorve e consome,
A esperança e fé.
Cansei das sacolas,
Repletas de esmolas,
Do que não quero comer.
Cansei da mendicância,
Da falta de elegância
Quando é preciso pedir.
Cansei da agonia solitária
Das frias noites de primavera
Olhando o céu estrelado,
E o frio cortando a alma.
Cansei da solidão satírica
Que nem a “pinga” ameniza
As lembranças antigas,
As dores do coração.
Cansei da labuta diária
De sol a sol incansável
Para honrar os compromissos,
Que os papelões e latinhas não pagam.
Cansei de engolir a vergonha
Vender as coisas que tinha
Pra fugir da humilhação
De novamente... esmolar.
Cansei desta vida abjeta !
Esse poema é dedicado a uma moradora de rua muito especial. Alguém que sentou ao meu lado e por uma hora e meia falou dos seus problemas, suas dores, amores, angustias e aflições, sem que eu nada perguntasse.