Colcha de retalhos
Ao longo do tempo, uma triste trajetória
Escrevemos nossa história de forma vexatória
Onde o acordo nuclear, o enriquecimento de urânio
Tem como objetivo afundar nossos crânios
Aqui a ditadura não foi abolida
Enfrentamos a resistência contra a ficha limpa
Providenciam pra gente ponto de nylon e etiqueta
Aumento de produção de alumínio pras gavetas
Bolsas de soro irrigando o pulmão
Do gerente da boca com tiro de oitão
Aqui é só o povo em fase terminal
Que não recebe sua quantia estipulada do pré-sal
Mira na cara do porco executivo
O Kevlar não vai protegê-lo dos tiros
Manda pro inferno o crime contra o patrimônio público
Evasão de divisas apodrecendo no túmulo
O corpo exumado, o caixão lacrado
É proveniente de um país remendado
O corpo baleado, o IML lotado
É resultado dessa colcha de retalhos
6 de junho de 44, o dia que mais se repete
Por várias vezes, disparos de 357
Invasão do território inimigo, balas deflagradas
E mais um mano morto na calçada
A promessa da vida eterna você encontra no templo
Também iurdianos dizimando seu dinheiro
Com o aumento do Selic, acréscimo de juros
E maior prosperidade no futuro
Sonho em ver rebelião maciça dos presos
Gambé pegando fogo pra servir de galeto
Eu descarto canibalismo, não quero cistircicose
Prefiro morrer de overdose
Não aceito meu dinheiro em obra emergencial
Temo os elefantes brancos após o mundial
Queima no inferno com seu saldo bancário
Enrolado na sua colcha de retalhos
O corpo exumado, o caixão lacrado
É proveniente de um país remendado
O corpo baleado, o IML lotado
É resultado dessa colcha de retalhos
Retalhado igual a uma rodovia sem sinal
Placas de cabeça pra baixo na Marginal
Asfalto com ondulações e sem faixas
Com pistas expressas esburacadas
Não adianta almejar vaga no G-8
Sendo o país que mais paga imposto
Passamos de devedor pra credor
Pra muitas famílias pouco adiantou
Não evitou a polícia a matar alguém
O mano fazendo o filho do boy de refém
A tia querendo sustentar sua família
Condenada porque roubou um pote de margarina
Chacina na periferia, ignoram as mortes
Mas travam a batalha da divisão dos royalties
Vão pro inferno com a degradação do meio ambiente
Com madeireiras ilegais, desmatamento crescente
O corpo exumado, o caixão lacrado
É proveniente de um país remendado
O corpo baleado, o IML lotado
É resultado dessa colcha de retalhos
Teste de paciência, haja linha e agulha
Colossal costura dos marajás filhos da puta
Fazem das eleições um espetáculo de circo
Onde só o Tiririca é palhaço assumido
Me explica quem recorre da ficha suja
Impunidade evitando impugnação da candidatura
Pensa que eu esqueci da saúde no descaso
O esquema de compra de frangos superfaturados
As obras anti-enchente, construção de piscinão
Entregues com contrato sem licitação
E quando o El Niño se enfurece, vem a tempestade
Tem mano preparando equipamento de canoagem
Sonho com o juiz batendo o martelo pra te condenar
Com seu novo adereço, um bracelete no calcanhar
Vai pro inferno contar as novidades pro diabo
Conivência, corrupção, colcha de retalhos
O corpo exumado, o caixão lacrado
É proveniente de um país remendado
O corpo baleado, o IML lotado
É resultado dessa colcha de retalhos