VERMES SOCIAIS
Na corte os comensais
enchem seus bornais.
Nas ruas e esquinas
balas enchem os jornais.
O ciúme atira na Virgínia
e também em Alvorada.
O carro de João Hélio
leva ao céu o menino
lá de Estância Velha.
Na corte os comensais
aumentam seus bornais.
Nos morros e nos becos
almas enchem os jornais.
O ódio dizima o Iraque.
Na fama do grande império
há um mundo em primeiro
e um outro em terceiro,
ninguém sabe do segundo.
Na corte os comensais
verificam seus bornais.
Não importam as balas,
nem a morte nos jornais.
O dia passa sempre.
Quase tudo é igual.
São apenas alguns gritos,
nos cenários infernais
fogem filhos, morrem pais.
Na corte os comensais
guardam seus bornais.
Nas casas dos parentes
vigias cuidam os portais.
O ouro compra os votos,
viaja em malas e cuecas,
até em nome do Senhor...
Falta grana para a vida
do pobre dócil contribuidor.
Na corte os comensais
centram-se em seus bornais.
Nas selvas e sertões
nunca chegam os jornais.
A natureza morre lenta.
O mar as praias arrebenta.
No calor do aquecimento,
memória curta; em breve,
impune esquecimento...
Há vermes nos bornais
saindo da boca dos comensais.
Obs.: Poema publicado em Antologia literária da UNIVAP - classificado em concurso.