Esqueleto da Cidade
O esqueleto da cidade é uma luz opaca
Que se divide em fragmentos na penumbra
Numa mistura de alguns desconhecidos egoístas
Que pagam caro para dormir em confortáveis leitos
E nas veias secas de sangue, circula óleo diesel
Dezenas de carros amontoados nessas artérias
Cortando de norte a sul essa inquieta fossa
Paraíso deslizante das poças d’água
Que se formam nos becos, depósitos de doenças
Que alimentam tuas veias, tão obscenas
Embarco na condução sem destino que em ti navega
Me desloco como em um tropeço bêbado
Nesse mar cercado de vertigem,
Que na penumbra adormece, salivando na multidão
Do caos sem fim, do vazio impenetrável
Que são o descanso e a tumba de teus ossos
Deslizo em tuas vértebras, adormeço em tua jugular
Mas me expulsas a ponta-pés como se eu não fosse tu,
Cidade enegrecida que planta sonhos de papel
E contamina os meus olhos através da tua fumaça
E te enxergo escurecida, afetada e doente
Pare de se esconder em labirintos, triste cidade doente que me fere!