JUSTA ILUSÃO

Nos momentos de límpidos desvarios,
De surtos de desejos indignados e improváveis,
Vejo celas repletas de gravatas alinhadas,
Camisas de puro algodão e colarinhos brancos.

Chego a deslumbrar doutores só advogando,
Refutando a defesa do avesso do direito,
Mesmo que algibeiras lhe sejam apontadas,
Fazendo valer a lógica do pagar pelo pecado.

Imagino o valor do dinheiro em justa troca,
Comprando só o que deveria estar à venda,
Sem trocar abuso por injustas benesses,
Nem fazendo valer o direito torto do ilegal.

Até já sonhei com a justiça tendo preço justo,
Nem sonhando deslumbro justiça gratuita,
A gratuidade repleta as celas de miseráveis,
E as ruas de ladrões com fartas carteiras.

Até ouço os anjos soprando as trombetas,
Anunciando o fim dos tempos injustos,
Com o direito escrito por linhas retas,
Proibindo os meandros da justiça curva.

Imaginem uma cela em plena calçada,
A multidão passando frenética e alheia,
Diante de mãos acendo dinheiro farto e sujo,
E o suor do inconformismo escorrendo,
Molhando as gravatas em colarinhos já pardos.
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 27/09/2010
Código do texto: T2523349
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