Tenho Fome

Tenho tanto quanto farto, lúgubre silício da mordaça,

cruel prelúdio das afins Marias,

Tantas Marias...

Quase perco o que tenho,

quando farto de ter só,

Esperado quase nunca, sempre, estupefato,

Rasgadas vestes, pobres remendos, iniludidos resmungos, ao relento costados...

Leves fardos do que farto, ao vento consumados

Pobres raias, tantas raias...

Faces surdas, ante o vago delírio que se queda, abatido quão erguido, aos céus do chão que se não finda...

Antes da aurora a madrugada, das chamas cálidas, assustadas...

Com fome tanto tenho, tenho tanto que me está por dentro, por entre, esperando, entranhadamente...

Pária augúrio do sorver d'ausência, sofro da fome que me consome

Com o imortal desejo de sorvê-la, não de saciá-la

Porque da fome que tenho, comungo com o mundo que a sente, anestesiadamente...

Fome que tanto é, a falta de se ter sentido, a falta de lógica do arbítrio, que só mata a fome dos sentidos, deixando vaga a do Espírito:

Desta que me encontro tanto

Quanto em Tróia o cavalo forja

Quanto tantos estimam o serem pagos, pelo tratar do corpo a fome, quando ela me está na alma, que se não farta,

De tanta fome ser.

-Felipe Teixeira (MG-1997)

Felipe Teixeira
Enviado por Felipe Teixeira em 23/09/2010
Código do texto: T2516157
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