VAMOS NOS MOVIMENTAR
Vamos quebrar as algemas enferrujadas
Que seguram os pulsos dos poetas
Não deixando a melodia ser
Cantada nas bocas dos músicos
Vamos sentir o dançar da batuta do maestro
Com a chegada da partitura
Que lhe fere a íris com as lágrimas
Que descem perante a face dos músicos
Em meio aos instrumentos
No decorrer dos ensaios
Vamos sugar o arcoíris com um pincel atômico
Trazendo as sete cores
A pintar as feridas expostas
Que insistem em não cicatrizar
Nos corpos pálidos
Que nos visita em véspera de feriados
Vamos jogar nossas televisões fora
Oferecer um jantar à luz de velas
À família
Deixando que nosso ego pense
Pela primeira vez sozinho
Vamos rasgar os sentimentos
Que dormem
Por medo de ouvirem um não
Saindo à procura do sim
Nem que
Para isto
Seja necessário descer até o abissal do abismo
Vamos cantar desafinados
Cantaremos as labutas
Os sorrisos esmagados pelas decepções
As vitórias que nos vestem com roupas limpas
Jogando as rasgadas ao vento
Que passa na tramela de nossas portas
A caminho do Sul sem previsão de voltar por ele
Sim por Norte
Vamos perfurar o sofismo
Com uma faca de dois gumes
Matar as intenções planejadas das mentes deliquentes
Que nos assombram por não sermos fúteis
Vamos encaixotar os nossos preconceitos
Levá-los até o cais
Como um produto de importação
Embarcá-los em um navio
Prestes a afundar em alto mar
Aliviando a alma dos ofendidos
Vamos nos sentar sem pressa de se levantar
Deixar que as horas se
Movimentem como um bicho preguiça
Pegaremos os nossos corações
Conversaremos com ele
Até o sol se por
Perguntaremos a ele o que
Realmente deseja
E se sente feliz por ser quem é.