Maestro versus Compositor
O compositor usa sua imaginação,
Gerando emoção sobre o eco invocativo.
Ele manifesta o processo criativo,
Transformando em arte esta simples inspiração.
O espírito flutuante traz a canção,
Num movimento inefável de liberdade,
Adornado de cores e expressividade.
As melodias ecoam suavemente,
Como uma onda leva o barco livremente,
Num equilíbrio de pura sonoridade.
O compositor observa cada trecho
De sua obra, temperando com nuanças,
Num estilo próprio, e vai compondo mudanças,
A ponto d’elevar su’alma em cada entrecho...
O mágico contraponto embeleza o trecho.
O espírito está dotado de conhecimento...
Trespassa o processo no mais belo andamento;
Nos belos elevários, trilos e mordentes,
Accelerando e improvisando os incidentes,
Nos esbarros acidentais — fecha o desfecho.
O maestro, não. Este só deturpa a música.
Rege de qualquer jeito, co’a maior desfeita
Ao artista, que a esculpiu pra deixar perfeita...
Trabalhando noite e dia co’a metafísica.
Mesmo que a tal regência pareça ser lúdica,
O pobre maestro não entende o processo
Dessa volição ‘speculativa de acesso.
“A palavra artista é bastante incompreendida,”
— disse Stravinsky! Se a obra não é entendida...
Certamente, a mentalidade estará “tísica”.
Os maestros, principalmente os brasileiros...
Pedem para os incompetentes dos spallas
Segurarem a barra, para não darem palas
Nas cadências sincopadas dos estrangeiros...
Nos movimentos mais simples dos violeiros,
Ficam atordoados; mas a pose, não perdem!
Fingem que estão regendo na fiel subordem,
Enganando a multidão — na mor cara dura,
E fazem de conta que olham à partitura,
Como se entendessem o rubato da desordem!
Muitos não sabem se é Dó, ou Fá# sustenido!...
Cadência? É tudo igual; maior, menor, não importa;
P’ra que entender de tonalidade... Se a porta
É surda, e ressoa uma voz tal qual um ganido?
Devem admitir que, realmente, é um gemido...,
Assombrando a imaculada sociedade!...
Nos profundos distúrbios co’a afabilidade...
Somente fazendo elo com alguns políticos,
Terão como fazer um som apocalíptico... —
Para agradar ao mor Dragão — o destemido!