VOTO
Dê-me seu voto!
Tudo lhe dou,tudo eu posso;
Sua casa eu troco,
Faço qualquer negócio.
Não tenha medo! Nem mordo nem coço
E sua escolha é nada, é troço
Que todo mundo dá e eu gosto;
Não se arrependerá,eu aposto!
De sua família, a boca eu adoço
E suas vontades, eu entorto
No verbo ou a mão até encosto.
Se preciso, eu aperto, eu forço.
Você não é você, é nosso
E seu cheque eu endosso,
Pro seu pirão eu dou os ossos
Que sobram, alimento teus porcos,
Teus filhos, pago teus impostos;
Sacio tua sede,revivo teus mortos,
Faço tua cerca, abro teus poços
E uma vez eleito, eu adoro,
Ver você a rezar pai-nosso,
Choramingando teus caminhos tortos.
Do meu pedestal de orgulho bócio
Esquecerei ligeirinho o teu voto
Comprado! Idiota! Nunca te vi
Nem de ti eu gosto.