De Secas e Verdes

Cantador se quiseres cantar;

veja que te não aconselho,

os tempos são difíceis!

Mas se imperativo for,

que cantes aleluias

às alegrias da chuva nova

na poeira velha e o cheiro bom

do bom barro de telha branco.

Ou o ocre dos ceramistas,

o branco das terracotas

e o ocre dos santeiros

nos cheiros molhados dos terreiros.

Não é que te queira ensinar

o ofício – de padre dizer missa –

(longe de mim)

é que os tempos são de seca,

são difíceis.

O mundo está sinistro.

digo isto só para parecer mais jovial.

Mas se quiseres calar

(veja que não te censuro).

se acaso, porém insistires,

que cante a paz.

As harmonias de abelhas e vespas

e formigas em seu fatigar

- operárias em construção –

na produção de alimentos

e no tornar fronteiras mais seguras.

Vidas mais úteis, vidinhas miúdas...

Ah, cantador, se os governos

fossem assim, tão eficientes!

Seríamos formigas maiores

e mais úteis, te garanto!

E nossas vidas, melhores.

Não que me queira queixar

é que a seca destes tempos sombrios

tornou agreste a minha alma

e desertificou o meu espírito.

O nosso destino de veredas

é alimentar rios.

Se calado, quiseres cantar e depois emudecer,

(veja que não te pressiono, nem apresso),

já que, por ti, tenho tanto apreço.

É que nestes tempos secos

de dificuldades, cantar é dorido.

Mas se de todo, quiseres te expressar,

que cantes jardins

belezas de moral em cachos,

canteiros floridos de ética,

floradas de justiça

e leiras e leiras de democracia.

Não é que te queira

dizer o que dizer

é que aqui, ao sul do equador,

são tempos de seca,

qualquer fagulha pode atear incêndios

e tiranias.

20/4/08 – 20h31’

Petrônio Ferreira o Exilado Político
Enviado por Petrônio Ferreira o Exilado Político em 02/09/2010
Código do texto: T2475263
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