Crime martirizado

A fuga deu certo, esse é um dia de sorte

Mataram vigia no carro forte e saíram com o malote

Ameaça aos gambé pela rádio comunitária

Pra não ser pego de surpresa e morrer na traca

Mas o mártir do crime morreu baleado

Outra medalha no peito do porco fardado

Abaixa a porra da porta, fecha o comércio

Miolo vai voar se eu encontrar algum aberto

Dedo de gesso não interferiu dessa vez

No serviço prestado pelo paga pau de burguês

Vai testar sua ponto 40 na cabeça do operário

Outro que passa impune pro poder Judiciário

O ladrão considerado por muitos da favela

Ta no velório entre 4 velas

Fazia serviços desmanchando as Kombi

Pro boy trocava crack pelas TV da Panasonic

Por um cigarro Derby enterrou o caixa vivo

Corintiano sanguinário matou palmeirense e são paulino

No crime defendia sua ideologia

Era oitão no latrocínio e PT na polícia

Era órgão no contrabando, vários coração

Também tinha rim, fígado e pulmão

Comprava Habeas Corpus de juiz corregedor

Absolvição nos tribunais, vai vendo, vários complôs

Não queria ser cobrador de ônibus, nem perueiro

Nem camelô vendendo brinquedo ou Cd de Playstation

Sentia a falta de grandeza dos truta

Que não amarravam computador na caçamba da perua

Só enquadravam o mercado e matavam motorista

Pegavam passe e davam comida pra família

Martirizaram o crime, mudaram o conceito

Caixão com alça de ouro, olhar de respeito

Crime martirizado

Revolucionado, politizado

Crime martirizado

Olhar de respeito pro caixão lacrado

Com o dinheiro do crime comprou vários panos

Abasteceu a goma, comprou sapato italiano

Incentivava os iniciantes

Pra que no futuro os moleques sejam grandes traficantes

Não dava boi pra gambé, atirava nas costas

Não era covardia, era prevenção suposta

Perdeu as contas de quantos caguetas matou

Entre um parceiro seu e um doutor

Só trafico de droga, intercâmbio na Colômbia

Pra deixar os manos na UTI em coma

E depois eles se encontram em fase terminal

Vão ser destaques no Jornal Nacional

Mas o crime é uma honra, vai vendo como é

Com celular vão grampear o telefone dos gambé

Que prenderam o chinês, acharam o máximo

Mas o comércio ta a mil na 25 de Março

Cada bala no crânio representava lucro

Era maior do que o da família de luto

Matou playboy que fez faculdade em Harvard

Carnificina 100%, o IBGE apontava

O cara morreu, a estatística amenizou

Homenagens póstumas provocam a raiva do doutor

Passeata na avenida, o maior ladrão morreu

Mas a alma está presente e ninguém percebeu

Sozinho no mundo, não deixou nenhum herdeiro

Alegava que ele não seria perfeito

Tinha medo de que o filho não seguiria os passos dele

Que morreria de fome mas não enquadraria Mercedes

Atacava o sistema como qualquer ladrão

Mas ele via no crime uma religião

A violência foi amenizada

Só que a civilização continua conturbada

Crime martirizado

Revolucionado, politizado

Crime martirizado

Olhar de respeito pro caixão lacrado

Denis Hacebe
Enviado por Denis Hacebe em 11/08/2010
Código do texto: T2432186
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