Este é um poema triste, que escrevi com lágrimas nos olhos. Não é uma homenagem, talvez nem seja um poema, pois não faço homenagens a situações fatos e atos que considero feios. Mas também, pensando pelo lado principal, o espiritual, pode ser uma linda situação, uma situação de resgate cuja consequência seja uma compensadora de indescritível beleza vida espiritual. Porém pode ser outrossim, uma homenagem aos Guardadores de coração bom, pacientes, criaturas raríssimas.
Poderia continuar escrevendo mais, mas lembro dos olhos sem brilho, dos passos falseados sem saber onde está o corpo, lembro da impaciência, gritos e lamúrias dos familiares, e da fisionomia dele (a) que nem sabe se está vestido ou nu, nem o que está acontecendo ali ou quem são aqueles que estão discutindo e gritando. Quem são, mesmo? ... Qual é o meu nome?  E quem é essa pessoa aí no espelho?...


Aos velhos (principalmente aqueles com DA), - que nem podem saber o que estou ridiculamente fazendo, ao dedicar-lhes este texto - rogando ao PAI NOSSO por eles e pedindo aos familiares que, apenas por uma fração de minuto, troquem de sapatos (ou chinelos) como fazem os índios, para sentirem um pouquinho o que eles experimentam e nem sabem. E é aí que está o ponto nevrálgico da coisa toda.



Devia haver uma lei
um estatuto, sei lá
uma portaria ou decreto
que proibisse permitir
deixar um velho sem sorrir
a pensar no que sorriu
e nestes tempos olvidou
devia haver qualquer coisa
dentro de cada coração
que fizesse o velho lembrar
passos do bolero que dançou
melodia do fado que cantou
remelexo do samba que mexeu
todos deviam ter o dom da telepatia
assim conversava com o velho
justamente sobre o assunto
que ele gosta no dia a dia
e no emaranhado de suas linhas
imaginárias, de pernas e pés
que não sabem aonde vão
de ondas desordenadas cerebrais
que não se acham ou localizam-se
certamente ele não se perdia