MARA: vítima de abuso sexual
Às cinzas, Mara reduziu a sua infância
Desde aquele dia em que seu pai
Alcoólatra de velha data
Completamente alucinado
Tocou-a com afago diabólico
Depois, sem clemência qualquer,
Abandonou-a
Semimorta e violentada.
O íntimo, Mara, secreta a sua dor
Fê-lo sepulcro da infância
Ora vêm lembranças lúgubres
Amarga-se em profundo estupor
Sozinha, no silêncio melancólico
A sós, com o mundo autista
Distante daquelas lembranças.
Zombeteiro, o passado teima voltar
À cena infernal que viveu Mara
Parece inútil esquecê-la
Nada foi mais forte que a realidade
Nem a bebida que os amigos
Receitaram como lenitivo
Nem mesmo o narcose.
Casos semelhantes a este
São comuns no dia-a-dia
Constroem manicômios
Diagnóstico médico: transtorno
Prognóstico: cura entre aspas
Casos selados.
Casos sem solução.
Mara enrodilha feito larva
Dentro do casulo negro
Muito longe da luz.
Alguém precisa lhe mostrar o Sol
Para um dia ela ser borboleta
Ter asas... voar...
Verdadeiramente livre
Poesia inspirada em história real e publicada no livro O Sol da Justiça, de Onã Silva.