MARA: vítima de abuso sexual

Às cinzas, Mara reduziu a sua infância

Desde aquele dia em que seu pai

Alcoólatra de velha data

Completamente alucinado

Tocou-a com afago diabólico

Depois, sem clemência qualquer,

Abandonou-a

Semimorta e violentada.

 

O íntimo, Mara, secreta a sua dor

Fê-lo sepulcro da infância

Ora vêm lembranças lúgubres

Amarga-se em profundo estupor

Sozinha, no silêncio melancólico

A sós, com o mundo autista

Distante daquelas lembranças.

 

Zombeteiro, o passado teima voltar

À cena infernal que viveu Mara

Parece inútil esquecê-la

Nada foi mais forte que a realidade

Nem a bebida que os amigos

Receitaram como lenitivo

Nem mesmo o narcose.

 

Casos semelhantes a este

São comuns no dia-a-dia

Constroem manicômios

Diagnóstico médico: transtorno

Prognóstico: cura entre aspas

Casos selados.

Casos sem solução.

 

Mara enrodilha feito larva

Dentro do casulo negro

Muito longe da luz.

Alguém precisa lhe mostrar o Sol

Para um dia ela ser borboleta

Ter asas... voar...

Verdadeiramente livre

 

Poesia inspirada em história real e publicada no livro O Sol da Justiça, de Onã Silva. 

Onã Silva A Poetisa do Cuidar
Enviado por Onã Silva A Poetisa do Cuidar em 27/07/2010
Reeditado em 12/04/2013
Código do texto: T2403225
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.