"África"

Ouço vozes soterradas que não dizem nada

Que calam terra e escombros

Súbito morrem na África das cores escuras

O tempo em séculos sobre os ombros

Vão em vão os pobres carregados da ilusão da fome

Vozes soterradas que se consomem

Vida que mingua nas Savanas do Continente

Entre gemidos e o gargalhar de fuzis

E vão-se os seres em contingente

Em insanas guerras civis

Vozes soterradas perambulam em cáfilas caladas

Como animais traçando destino infeliz

Saara, seara dos ventos

Do pó da pedra que voa

Saara, terás para sempre

O uivo dos ventos que nas almas ecoa

O animal que ruge no estômago da criança que morre

E um mundo vizinho sorrindo não te socorre

O sangue que te escorre e a terra sedenta bebe

África, do Apartheid da pele

Ao vírus que insone

Teu ventre gerou

Recolhe tua mão pedinte estendida

Acena o adeus a vida

Porque o mundo vizinho

Sorrindo te abandonou.

® Varley Farias Rodrigues

do Livro Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, vol. 30