Neste dia pardacento, trago aqui meu lamento!
Vede o sol? Ainda brilha no firmamento,
Ilumina minha face e me dá o momento!
Vede a sombra que se esgueira paupérrimo?
É o menino José, e é nascido do ventre do egocentrismo;
Profusão que se propaga, e que se dá arrimo.
Vede? Vai de mansinho, este José, o magérrimo
Filho do asfalto, morador do anonimato.
Tem sede, tem fome e nenhum desiderato.
Vede adiante? Lá esta Maria, é filha da intransigência,
Prima irmã da prepotência. E que se saiba, Maria não é de indolência;
Cata do lixo o desperdício e a quem lhe teme, pede paciência.
Maria, mulher menina; acredita no futuro, hoje ganhou para comer com opulência,
Terá meio quilo de carne moída, que será repartida com prudência,
Entre cinco filhos de pais incomuns, todos nascidos da clemência...
De Deus; pois, a vontade dele em Maria impera com evidência,
Sempre diz da vontade do senhor que a ela criou com sapiência,
Fez-lhe mulher, deu lhe ventre e a batizou com amor em abundância.
Vede este filho? E de Maria, lhe foi tirado antes mesmo de ser enumerado.
Perdeu-se na vida; no emaranhado de artifícios do desumanizado,
Sorveu da fumaça do cachimbo endiabrado e morreu cedo danado.
Morte em vida! Vida de desalmado; que choraminga e pede demasiado
É excrescência do humano, troço encetado pelo engenho do diabo.
No asfalto tem seu chão, sua cama, seu traçado amortalhado!
Seu corpo minguado é o entulho na calçada, que estorva o passante apressado
Seu odor é convite ao repudio, que encobre o convite ao café perfumado
A metrópole não engana tudo tem seu lugar, tudo esta arranjado.
Vede Maria?, vede o emaranhado plastico, no solo enrodilhado?
A ela tem valia, se valia tem, o pacote será desembrulhado
Quiçá, ali, naquele canto, na marquise do mercado,
O pacote tão largado guarde um bem a ser negociado
E Maria desfazendo o enrodilhado, queda-se no espanto pelo achado
Ali naquele embrulhado esta seu sexto filho ignorado
Vede que o poema é lúgubre e mal encetado, Maria é mãe deste endiabrado!
Este sexto filho, assim mal numerado, nascido e logo execrado
maria chora e chora pelo inanimado; José seu filho morto, no craque viciado!