Em poucas palavras
Em poucas palavras, dito o desdito.
Oculto a revolta em meus pensamentos.
Denuncio a torpeza de muitos espíritos.
Invento heróis, batalhas e mitos...
com a esperança do sonho nunca acabar.
Em poucas palavras, desvendo mistérios ocultos.
Zombo da vida a cada segundo.
Vasculho abismos negros e profundos,
a imensidão de desertos e oceanos,
com a certeza, absoluta, de nada encontrar.
Em poucas palavras, sufoco meus pensamentos.
Faço gestos obscenos, engano, blasfemo e minto.
Rasgo o verbo da dor e do sofrimento... de quem,
no tormentoso tédio noturno, deseja apenas gritar!...
Em poucas palavras, simplesmente ofensa.
Em outras, pura inocência!
Menino pobre injustiçado.
Morador da periferia ou favelado.
Sonhador inveterado, que já nasce enganado,
pelo falso sonho globalizado e esperança futura de tudo comprar.
Em poucas palavras, apenas indecência.
Em outras, imoralidade e concupiscência.
Alma bendita! Alma maldita!
Alma que sangra! que chora e grita,
por algo que quer, mas não consegue mudar.
Em poucas palavras, revolta e miséria.
Portas fechando em toda favela.
Gritos da tropa no beco escuro.
Barulho de tiro no silêncio noturno.
Estalo do tapa na cara do pobre desnudo,
que é torturado, sem nada falar.
Em poucas lavras, apenas murmúrios.
Sussurros ocultos em paredes e muros.
No dia seguinte o silêncio infame do povo oprimido.
Marcas de balas e corpos caídos.
Verdugo político! Verdugo polícia! Verdugo bandido!
que matam quem fala, ou mandam matar.